Por Minha Receita
Antes protagonista da feira, da fazenda e das festas juninas, ele agora virou item de luxo, viral do TikTok e queridinho do skincare. O milho nunca esteve tão em alta – e não apenas no prato. O ingrediente ancestral chega a 2025 brilhando em preparações como pipoca com manteiga trufada, brigadeiro de milho brûlée e café com espuma de milho doce, além de hidratante facial com extrato de milho roxo.
Muito antes de existir a palavra “trend”, o grão já fazia parte de sistemas agrícolas sofisticados e sustentava diversas civilizações. Estima-se que seu cultivo na América do Sul remonte a mais de quatro mil anos, com práticas que envolviam diferentes variedades aplicadas em usos diversos, da alimentação à medicina e até como material de construção.
Agora, ele protagoniza uma nova onda sensorial que mistura sabor, textura e imagem, e encontra solo fértil na recente popularização da estética “farmcore” – o desejo contemporâneo de uma vida simples, bucólica, ligada à terra (mas cuidadosamente editada para as redes sociais).
Festa do Milho
Uma das grandes celebrações do ingrediente é a Festa Nacional do Milho – Fenamilho, em Patos de Minas (MG), que neste ano acontece entre os dias 16 e 25 de maio. Em sua 64a edição, o tradicional evento mobiliza a cidade com shows, concursos e desfiles – e, claro, muito curau, canjica, pamonha e pipoca. A festa não só celebra o milho como símbolo cultural, mas também movimenta a economia local – e ajuda a reforçar o status do grão como ícone da brasilidade.

O mês de maio ainda reserva outra data simbólica: o Dia Nacional do Milho, celebrado no dia 24, não por acaso coincidindo com o período do Festival do Milho. A data, instituída há uma década, reforça a relevância histórica, econômica e cultural do alimento que é o 8o mais consumido no mundo. O Brasil é seu 3o maior produtor global e o único país do mundo capaz de produzir até três safras no mesmo ano, graças à combinação de conhecimento técnico e condições ambientais favoráveis.
Já em junho, com o início das Festas de São João, as populares festas juninas, o milho atinge seu pico de popularidade. Mas, diferentemente de outros anos, agora ele aparece com um “glow up”, chamando atenção em receitas veganas e low carb e, principalmente, com um quê de alta gastronomia. Que tal um curau com infusão de baunilha amazônica ou um financier de milho com ganache de chocolate branco e flor de sal?
Hit nas redes
No TikTok, a hashtag #itscorn (“é milho”, em português) soma centenas de milhares de visualizações, com vídeos que exploram desde receitas de milho com foco em ASMR – técnica que usa sons e texturas para induzir prazer sensorial – até massagens com óleo de milho artesanal (e também alguns vídeos fofos de hamsters comendo milho, é verdade). A variedade impressiona: há ainda conteúdo sobre espumas, infusões, velas aromáticas e até colares feitos com espigas miniatura, tudo embalado em estética nostálgica, rural-chique e viral.
A explosão criativa em torno do grão também acompanha o momento de resgate de ingredientes nativos brasileiros, como o milho roxo, cada vez mais valorizado por chefs e celebrado tanto pelo valor nutricional quanto pelo apelo estético. Com alta concentração de antocianinas, ele é rico em antioxidantes e rende pratos e cosméticos com tons intensos e vibrantes.
Para além do modismo, o milho vem se inserindo em uma espécie de virada cultural, que envolve a valorização da cozinha afetiva, da ancestralidade e da atenção a todas as etapas de uma produção sustentável e conectada com o tempo da terra. Uma ponte entre as raízes e a reinvenção.